Porquê uma Spotmatic?
Poderíamos dizer que foi aqui que tudo começou. Devia ter eu uns cinco anos, estamos, portanto, em 1966.
O meu tio Jorge Sá Dantas voltou de Angola, onde tinha prestado serviço militar e trouxe uma Pentax Spotmatic, com diversas objectivas, filtros e outros acessórios, tudo muito bem-acondicionado numa mala, em couro, dedicada ao conjunto.
Foi a primeira vez que tive nas minhas mãos uma SLR e, nesse momento, decidi que seria o tipo de câmara que iria usar, quando fosse grande.
A verdade é que a minha primeira SLR, foi uma Zenit E, e a partir daí, tive algumas Nikon.
Demorei perto de quarenta anos a ter uma Spotmatic, este belo exemplar negro que aqui vos apresento, que foi um presente dos meus pais, pelo meu 49º aniversário.
Alguns factos acerca da Spotmatic:
A Pentax Spotmatic foi apresenta em Colónia, na Photokina de 1960, como protótipo, pela Asahi Optical Co. Ltd.
Este protótipo tinha de facto um fotómetro pontual, ou spotmeter, em inglês, daí o nome. A versão de produção, que foi introduzida no mercado em 1964, vinha equipada com um fotómetro de leitura média, que mais tarde, foi substituído por um de ponderação ao centro.
A Spotmatic foi uma das pioneiras na utilização de um fotómetro TTL e tornou-se uma câmara de culto, tanto para profissionais como amadores sérios.
Um facto interessante foi a Asahi Optical Co. Ltd, ter incorporado no nome da companhia o nome do seu produto, passando a chamar-se Pentax Corporation.
O nome Pentax foi dado às câmaras com um pentaprisma fixo, ao contrário dos modelos anteriores, as Asahiflex, que usavam diferentes visores intermutáveis, como visores de peito, de prisma, com e sem medição, etc.
Principais características:
Na foto acima podem ver a dupla ligação para flash, X para flash electrónico e FP para flash de lâmpadas descartáveis adequadas para obturadores de plano focal. Assim como o activador do fotómetro/previsão da profundidade de campo, marcado SW. Quando deslocado para posição superior fecha o diafragma da objectiva, para a abertura previamente escolhida e indica a leitura do fotómetro, no visor, através de uma agulha.
Na imagem da esquerda vemos o visor da Soptmatic com o fotómetro desligado e o diafragma completamente aberto, na da direita, o fotómetro está ligado e o diafragma fechado à abertura escolhida. Como podem ver a agulha está entre os limites de exposição correcta, poderia, no entanto, abrir um pouco mais o diafragma, para centrar totalmente a agulha.
Quando se efectua o disparo, o diafragma abre e o fotómetro desliga-se automaticamente.
Chama-se a este tipo de leitura, leitura de diafragma fechado, em inglês stop down metering. Permite ao mesmo tempo aferir a profundidade de campo, para esta abertura.
Apercebi-me, mais tarde, que a pilha estava invertida, pois ao fechar o diafragma, a agulha deslocava-se para cima, para +, indicando sobre-exposição, e vice-versa.
Nesta vista da tampa superior podemos ver, à esquerda a alavanca de rebobinagem do filme, rodeada por um colar de alerta do tipo de filme colocado na câmara, ao meio a cobertura do prisma, com algumas marcas de abrasão, certamente provocadas por um suporte de flash.
Do lado direito temos o selector de velocidades, que incorpora o selector de ISO, activado ao puxar o módulo para cima, rodando simultaneamente até encontrarmos o valor de ISO do filme carregado. A seta verde, à sua esquerda indica valores correctos, passa a vermelho em valores fora da escala, por exemplo: no valor máximo de ISO suportado, 1600, se escolhermos uma velocidade abaixo de 1/15, assim como, no valor mínimo de ISO, 20, acontece o mesmo acima de 1/125. Uma peculiaridade.
Temos depois o disparador, roscado para poder usar um disparador remoto e, à sua direita, mal visível na foto, um indicador de prontidão, preto se a ainda não tivermos efectuado o avanço e vermelho, se a câmara estiver pronta para disparar.
Finalmente a alavanca de avanço do filme que inclui o contador de exposições. O contador retorna zero, sempre que a porta traseira é aberta.
Aqui vemos o icónico logótipo SPOTMATIC, a alavanca do retardador de disparo e a super nítida objectiva SMC Takumar 55 mm 1:1.8, que, entretanto, troquei por uma 50/1.4.
SMC significa super multi coated, ou seja, tem várias camadas de protecção antirreflexo aplicadas nas lentes da objectiva. Existem vários tipos de objectivas, que além das diferentes distâncias focais e aberturas máximas, diferirem também no número de camadas de protecção, as Super Takumar têm apenas uma e as Auto Takumar, bem como as pre-set não têm nenhuma.
Até a tampa da objectiva é linda.
Outro ponto positive é, que sendo uma câmara com montagem de rosca m42, permite utilizar muito e bom vidro, não só da própria marca, mas de muita outra proveniência, principalmente da ex-URSS.
Entretanto, fui juntando algumas objectivas Takumar, para lhe fazer companhia:
SMC Takumar 4.5/20mm
Super-Takumar 3.5/28
Super-Takumar 3.5/135
SMC Takumar 4/200
Todas com estojos tampas e para-sóis.
Consegui também encontrar, naquele site em que nos perdemos, o tal estojo, em cabedal, igual ao que o meu tio Jó trouxe de Angola.
Tenho também o conjunto de filtros coloridos da Soptmatic do meu tio, a câmara estojo e objectivas perderam-se.
É uma câmara muito agradável de utilizar, mesmo com os seus provectos sessenta e tal anos e o fotómetro dá leituras perfeitas, usando uma bateria de zinco-ar, as velocidades estão bem aferidas e esta objectiva é de uma nitidez espectacular.
No fim deste artigo, podem ver alguns exemplos de fotos tiradas com ela.
Lista de características:
Tipo – Câmara fotográfica reflex de uma objectiva com fotómetro TTL integrado
Filme e tamanho da imagem: 35mm, 24x36mm
Montagem de objectivas – Rosca m42, com diafragma automático
Obturador – Plano focal com cortinas de tecido a correr horizontalmente. Tempos de obturação: 1-1/1000 segundos e B. Retardador de disparo incorporado, 5-13 segundos.
Fotómetro – No corpo mede a luminosidade do despolido e acopla directamente às definições de abertura e tempo de exposição. Escala de sensibilidade (ASA/ISO) de 20 a 1600 (LV1-18 com um filme ISO 100 e a objectiva padrão). Alimentado por uma pilha de mercúrio, como este tipo de pilhas foi banido, utilizar uma pilha de zinco-ar (aparelho auditivo)
Visor – Pentaprisma com Fresnel e círculo de micro-prismas de auxílio à focagem; magnificação de 0,88x com a objectiva de 50mm e aproximadamente 1,00 com a 55mm
Espelho – De retorno automático com amortecimento, para um mínimo de vibração
Avanço do filme – Alavanca rápida de retorno automático (avança o filme e arma o obturador). Ângulo de até 10º repouso e 160º avanço completo
Indicador do avanço – aparece um ponto vermelho, junto ao disparador, quando o filme está avançado e o obturador armado – pronta a disparar – e fica preto após o disparo
Contador de exposições – Retorno automático a zero ao abrir a porta
Sincronização de flash – Equipada com terminais FP e X. Sincronização electrónica a 1/60
Rebobinagem do filme – Alavanca rápida de rebobinagem. O botão de libertação do filme, na tampa inferior da tampa, roda enquanto o filme está a ser rebobinado.
Indicador do filme carregado – Fica por baixo da alavanca de rebobinagem e pode ser colocado nas posições: PANCHRO (preto e branco), COLOR (côr) e EMPTY (vazio)
Dimensões – Largura 143mm x altura 92mm x grossura 88mm
Peso – 868g com a objectiva padrão, só o corpo: 621g
Fotos de exemplo:
Abençoada viagem por RaúlM.
Santa Catarina por RaúlM.
Grandeza na morte por RaúlM.
Julguem-na pelos resultados.
Até breve!